Wednesday, January 2, 2008

Be sure to wear some flowers in your hair (and nice shoes)

Cable cars

San Francisco pode ser vista em diversas tours ou nos cable cars, que cobrem os principais pontos da cidade, mas privam turistas "exploradores" de muitas surpresas. Nós, que gostamos de acreditar que somos "exploradores", um pouco aturdidos ao perceber que fazer turismo a pé depois dos 30 é diferente de fazer nos 20, decidimos andar. E andamos. Por todas as lombas (para os não gaúchos, ladeiras) possíveis. E, sim, vimos todos os lugares-comuns do guia (só faltou Alcatraz), mas "exploramos" vários pontos e vistas que não imaginávamos encontrar.


A cidade é linda. Simples assim, nem adianta tentar descrever com palavras mais complexas (quer palavras articuladas? Be Sure to Wear Some Flowers in Your Hair ou I Left My Heart in San Francisco). A cada esquina, é possível topar com uma vista, um belvedere escondido, uma trilha disfarçada, que exibe um ângulo novo, lindo, da cidade. Para achar isso, só aceitando desafiar a gravidade e subir onde a natureza determinou que se deve descer.

Haight-Ashbury, San Franscisco

O presente com contornos tão nítidos dos 60 está lá para quem quiser arregalar os olhos e ver (pode passar despercebido entre as megalojas, parkings lot e montes de turistas nas ruas). É só abrir os olhos e usar a imaginação para povoar as ruas de Haight-Ashbury, North Beach e Berkeley (cidade a 20 minutos de SF, onde, na Universidade da Califórnia, despontaram o movimento hippie e os protestos contra a guerra do Vietnã). Se a imaginação não for suficiente, você vai topar, por acaso, com alguma livraria decrépita, como a que entramos por acidente, em North Beach. O local estava repleto de literatura beat, e exibia uma exposição de fotos do Robert Altman (!), que reúne imagens de protestos, do "Summer of Love" e de tantas cenas que explicam os que ficaram pelos 60. Experimentar deve ter sido tão intenso quanto traumático ter de aceitar que o sonho acabou. Clichê, mas nossa geração não viveu nada assim, não me atrevo a julgar.

Japanese Tea Garden

Viver em uma cidade tão inquieta quanto linda só pode mesmo ser inspirador. Andando pelas ruas do Castro District, região gay - que hoje parece um pouco caricata (ou turística) com as bandeiras do arco-íris e pinturas e cores -, dá para pressentir outra revolução que muitos da nossa geração nem tomaram conhecimento, simplesmente crescemos e aprendemos a viver com os resultados: a busca por aceitação e evolução no tratamento da aids. Eu não fazia idéia, mas no Golden Gate Park há um memorial para as vítimas da aids, com nomes gravados no chão, declarações de amor e tributos a pessoas que nunca souberam de que mal morreram. Não está nos guias, descobrimos caminhando. O lugar é lindo. Um círculo de luz no meio das árvores: a região é cercada por árvores altas, que deixam a trilha escura e úmida, mas o miolo onde fica o memorial está exatamente em um círculo iluminado pelo sol. O efeito é lindo e o local é, ao mesmo tempo, escondido e inspirador.

Eu

A comunidade asiática, meaning 90% chinesa, é enorme e tem uma dinâmica similar aos latinos em Miami, com direito a letreiros de lojas bilíngues e a sensação de que quem fala mandarim (e outros dialetos chineses, para o meu ouvido chinês é chinês) se vira tão bem quanto qualquer hispano hablante na costa de cá. Chinatown é, imagino, como qualquer outra nos US (só conheço a de NY), mas é enorme. São várias ruas - e muitoooos patos defumados, frutos do mar secos e cheiros exóticos. Lá você encontra os artigos das gifts shops de todos os pontos turísticos por até 1/3 do preço, como, suponho, em qualquer Chinatown. Apenas seja cuidadoso na escolha do produto, as lojas são muito desiguais em termos de qualidade, ande um pouco.

SF merece dias de exploração para quem, como nós, gosta de cidades. Esse é o nosso tipo de turismo: andar pelas ruas, olhar para o céu, sentar em um café para ler o jornal local, decorar as cores e os cheiros da nova cidade (vista, talvez, pela primeira e última vez), arquivar para recordações futuras (quem me conhece sabe que sou econômica nas fotos). Ainda assim decidimos dividir nossos dias lá com viagens rápidas a cidades próximas.

Fizemos um bate e volta a Napa Valley e Sonoma. Foi rápido, mas vimos os vinhedos (inverno, portanto sem uvas ou folhas) e algumas vinícolas. O passeio merece pelo menos uma noite na região para aproveitar melhor os restaurantes, as degustações, os vinhos e o clima. O passeio é bonito, mas se tiver pouco tempo fique em San Francisco mesmo.

Carmel e Monterrey, ao Sul, são passeios mais longos, mas definitivamente imperdíveis. Vá pela US 1. O cenário é fabuloso: você vai ver trechos com nada além de mato e mar morro abaixo. A mistura de litoral recortado e Serra em Carmel é belíssima e a cidade, bem pequena, é charmosa. Foi em Carmel que toquei o Pacífico pela primeira vez. Em Monterrey está um dos maiores aquários dos Estados Unidos e, para quem gosta do programa, é bacana. Antes da volta, um tour pela 17-Mile Drive (estrada privada que oferece outra série de great views) é obrigatório.

Back a SF, alguns dizem (o nosso guia turístico de papel, por exemplo, que definitivamente era um terceiro elemento no grupo) que comer clam showder ou crabs nas barraquinhas do pier é passeio básico ou você não esteve lá. Adoro experimentar a culinária local, mas não gosto de colocar meu estômago à prova. Para quem curte e não se importa com um ambiente um pouco sujinho, uma multidão de pé comendo crabs com as mãos, em meio a panelas de água fervendo (a mesma durante todo o dia, eu diria), é uma opção barata de alimentação. E todo um pacote turístico, do qual acabamos abrindo mão.

Mas, no geral, se come bem na região. Acho que, dos chocolates quentes às pastas, não provamos nada ruim ou mal feito ou mal servido por lá. E quem já esteve em Miami sabe do que estou falando: serviço ruim, comida péssima e porções gigantes e totalmente desproporcionais na relação sabor x tamanho - ninguém ouviu falar de que, às vezes, menos é mais.

TOP TEN SF NA BARBLAND
10. Ver a Golden Gate de longe, no final de tarde, marcando a paisagem com seu vermelho brilhante.
9. Descer de carro a Lombard Street para apaziguar a criança que vive no corpo de 30 anos.
8. Fingir que entendo alguma coisa de vinhos, fazer caras e bocas na degustação e ouvir explicações do sommelier.
7. Decadent drinking chocolate da Ghiradelli.
6. Cafe Mason e seu seafood linguini, lifesaver, aberto 24h, serviço excelente, preços razoáveis, ingredientes de qualidade e um dos poucos locais na América onde as garçonetes não pressionam para cair fora antes da segunda garfada. Na verdade, não importa a hora do dia, you take your time.
5. Tomar chá verde e ler a sorte do biscoito no Japanese Tea Garden, no Golden Gate Park.
4. Parar o carro no estacionamento do Marina District e ver o mar.
3. Descer a rua principal de Carmel e, em meio a árvores, descobrir o oceano Pacífico, gigante e gelado.
2. Twin Peaks, pontos mais altos da cidade. Visual (e a experiência de subir até lá) amazing
1. Caminhar em um domingo de sol no Golden Gate Park. Andar por horas, ver as árvores, experimentar as trilhas e observar as pessoas.