Quando "O caçador de pipas" caiu por acidente nas minhas mãos em uma livraria de aeroporto, eu comprei como um presente, mas acabei ficando com o livro. Não conhecia o autor e sequer sabia que era um livro pop. Mas a culpa me prendeu. Comecei a ler e acabei presa pela fraqueza de caráter do personagem narrador e pelo tema central ser a culpa.
Livros que figuram nas listas de mais vendidos não costumam ser os mais dotados de articulação literária, então foi uma surpresa. Narrativa fechada, plot que "pega" e eficiente construção dos personagens, vale a leitura. Como toda ficção tem lá suas passagens inverossímeis. Mas tem um drama bem construído: a fraqueza do narrador e a culpa que o corrói, nunca expressa abertamente em palavras, é palpável. O pai, que enxerga um filho fraco e decepcionante, mas ainda assim abre mão da própria essência para dar uma chance de vida a esse filho, é a paternidade nua e crua, a doação que só um pai consegue fazer. A criança ingênua e ao mesmo tempo perversa se torna um adulto fraco e vulnerável - nem sempre somos o que queremos ser, mas dá para corrigir? A obediência cega e tola e o amor incondicional a quem não pode nos amar corrompem o objeto de adoração. Se por um lado nunca se quis tamanha expectativa, como não se culpar por rejeitar tamanho amor?
Enfim, ainda que o desfecho seja pouco provável (o salto de personagem fraco e covarde a herói é demais), o livro tem lá um recorte da natureza humana e suas fraquezas. Não me prendi nas diferenças culturais entre Ocidente e Oriente, ainda que algumas contribuam para a minha interpretação do livro, mas prefiro sempre achar que pessoas são pessoas em qualquer lugar, independente de outros aspectos. Para quem curte essas reflexões e gosta de pensar a respeito das pessoas, suas ações e os inexplicáveis motivos que as determinam, é lazer na certa.
Monday, February 4, 2008
Bestseller E blockbuster que vale a pena
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